Por: José Alcântara
Estava sentada em um banco da pequena praça do Terminal Rodoviário no São Lázaro, aguardando a partida do ônibus que me levaria para Ferreira Gomes, onde passaria o final de semana desfrutando das belezas daquele município e me banhando nas águas frias do Rio Araguari, quando de súbito, percebi um senhor de aproximadamente 52 anos ou um pouco mais, que parando ao meu lado, suando em bicas, a camisa colada ao corpo devido o excesso de suor, arfando muito, sob um sol escaldante, arriou sua mala dando um longo suspiro de alívio por descansar, do que me pareceu, pela expressão facial, um peso enorme.
Parecia tão cansado como se estivesse caminhado uma grande distância para chegar até ali que nem se importou com o chão sujo de lama em consequência de uma forte chuva que acabara de cair, onde colocou a única bagagem que carregava.
A mala era daquelas antigas, feitas de fibra, do tipo que já não se costuma usar, marrom, encardida, para não dizer suja, estava gasta pelo tempo e talvez, também, pelo uso, o que me levou a pensar que, possivelmente estivesse vinda do Arquipélago do Marajó, região que vi outras iguais quando, tempos atrás, viajei algumas vezes, em férias para Belém do Pará de navio. O dono da mala era baixinho, mas não chegava a ser anão, raquítico, de uma magreza excessiva, calçava sapatos tipo plataforma, possivelmente como maneira de disfarçar a pouca altura, cabelos pretos, tesos, pareciam pedaços de arames ou espinhos, não era branco, porém, a pele amarelada, deixava entrever uma anemia crônica e se não fosse pelos olhos redondos, poderia ser confundido com japonês, apesar dos músculos, demonstrando estar acostumado ao trabalho braçal, nada tinha de belo, o rosto parecendo uma Pêra, contrastava com a barba bem feita e o bigode “de espeta caju” cheio e bem aparado, aliás, o bigode era a única coisa “gorda” que tinha, o que me levou, mais uma vez, a refletir que, muito embora, estivesse vindo do Marajó, talvez, fosse natural do Rio Grande do Sul, gaúcho, região onde o hábito de usar bigode, ainda é bem difundido.
Olhou às horas em seu relógio de pulso, sentou-se ao meu lado, para logo em seguida levantar-se e caminhar até o interior do terminal, retornando após alguns instantes, parecia bastante nervoso, como se estivesse temendo algo ou aguardando alguém, quem sabe algum parente, que há muito tempo não via, mãe? Filho? Talvez estivesse chegando agora do interior do Marajó e não conhecesse ninguém em Macapá, daí seu nervosismo, com receio de ficar perdido, ou de não ter para onde ir. Ou então, quem sabe, pela cara sofrida e angustiada, estivesse só de passagem, fugindo da mulher que o maltratava e o nervosismo seria acarretado pelo receio de ver a megera chegar a qualquer momento, antes que pudesse escapulir para mais longe.Envolvida em meus pensamentos, no afã de decifrar o mistério daquele desconhecido, quase perco meu ônibus e assim, parti, sem saber o que na realidade aconteceu e de onde ele era. Nunca mais o vi, mas a impressão deixada foi tão grande que até hoje me recordo do caso passado no início deste ano.